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Tensão no campo
03/06/2014 14:11:34
 
 
 

 

 

Por Walter Pereira – Tribuna do Interior

Pelo menos 300 pequenos produtores rurais de mandioca fizeram um manifesto ontem em Araruna. Com faixas e carro de som, realizaram uma passeata pela avenida Presidente Vargas, principal via da cidade, até a Casa da Cultura. O protesto foi para chamar a atenção do Governo Federal quanto à lei trabalhista nº. 5.889, que regula o trabalho rural. Em apoio aos manifestantes, o comércio paralisou as atividades por uma hora. O prefeito Fabiano Antoniassi, presidente da Câmara, Natanael Faria, entre outros vereadores, participaram da manifestação.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araruna e representante da Agricultura Familiar no município, Antonio Camilo Ramalho, os pequenos produtores estão sendo pressionados pelo Ministério do Trabalho a registrar os trabalhadores que prestam serviços por dia, os chamados ‘bóias-frias’. Além do registro em carteira, uma série de exigências, como equipamentos na lavoura (banheiros químicos) aos diaristas, Equipamentos de Proteção Individual (EPI), entre outros, estão sendo cobradas.

A questão, explicou Ramalho, é que os produtores não têm condições financeiras para se adequar a todas as exigências. Segundo ele, nem mesmo um prazo foi dado à categoria para se adequar as normas legais. “Este protesto é em defesa da agricultura familiar, para que haja uma flexibilização da lei aos pequenos agricultores. Queremos que a lei trabalhista para a classe seja diferenciada”, disse.

O presidente do sindicato informou que a fiscalização do Ministério do Trabalho a lavouras do município se intensificou a partir do ano passado. A situação é preocupante. Para não serem penalizados, muitos agricultores paralisaram a colheita. A falta de matéria-prima já influencia também nas indústrias farinheiras, que diminuíram significativamente a produção. Caso não haja uma solução, a economia da cidade corre o risco de ser severamente prejudicada. Alguns produtores que insistiram em continuar os trabalhos na lavoura sem adequar às normas acabaram autuados. É o caso de Pedro Fernandes dos Santos, que foi notificado pelo Ministério do Trabalho. Ele cultiva 25 alqueires de mandioca e emprega 12 funcionários dos quais oito não possuem registro.

Santos ainda não sabe o valor da multa que terá de pagar. Ele disse que está preocupado. “Estávamos trabalhando quando os ficais chagaram já autuando”, lamentou. O produtor informou que a cobrança do Ministério do Trabalho para o cumprimento da lei vai tornar a atividade inviável. “Os preços já não estão bons e agora a situação se agrava ainda mais. O Governo poderia pelo menos dar um prazo aos pequenos produtores e pensar em um regime diferenciado”, pediu.

Pequeno agricultor predomina

De acordo com informações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araruna, 70% do município são formados por pequenos agricultores dos quais, a maioria tem como principal cultura a mandioca. O município tem uma área de plantação estimada em 8 mil hectares, com produção anual de cerca de 256,9 mil toneladas, possui ainda sete indústrias farinheiras. Do cultivo à colheita, o trabalho na lavoura é praticamente 100% manual. “A cultura depende muito de mão de obra braçal”, disse Ramalho.

De acordo com ele, a lei nº. 11.718 de 2009, da Previdência Social, permite ao pequeno agricultor manter o funcionário sem registro até 120 dias trabalhados. “Mas o produtor não consegue colher a safra neste prazo. Se planta quatro alqueires de mandioca, por exemplo, neste prazo ele colhe apenas dois”, frisou. “Dessa maneira fica inviável trabalhar com a pequena propriedade”, emendou. Segundo Ramalho, há a necessidade de o Governo Federal implantar registro e recolhimento diferenciados ao pequeno agricultor.

 

Mãos atadas

Para o produtor Mario Fontini, hoje os agricultores familiares estão de ‘mãos atadas’. Segundo ele, especificamente os produtores de mandioca de Araruna enfrentam um momento delicado. Ele cultiva cerca de cinco alqueires de mandioca. “Não nos enquadramos nesta lei. Hoje pelo preço do produto e mais encargos estamos no vermelho.  Sei que acabar com a lei não vamos,  mas precisamos flexibilizar de alguma maneira para que o pequeno seja favorecido”, comentou. Ele pediu a ajuda dos deputados para a causa. Segundo Fontini, a maior preocupação é coma colheita paralisada no município, pois como há previsões de geadas para os próximos dias, as ramas, que servem de sementes para a próxima safra, podem ser prejudicadas.

O agricultor Afrânio Antonio da Silva é outro que reclama da situação. Ele cultiva 10 alqueires de mandioca que estão no ponto para colheita, mas na lavoura, os trabalhos estão paralisados por causa da fiscalização do Ministério do Trabalho.  “O governo bate em cima do pequeno produtor. Não estamos fugindo do registro, mas precisamos de um prazo e mais flexibilidade. A nossa vida está sendo dificultada e também a vida do povo que trabalha e depende destas diárias”, criticou. Segundo ele, durante a colheita, emprega cerca de 10 pessoas por um período de pouco mais de três meses.

Preços

Os preços da mandioca é outro fator que desmotiva a continuidade da cultura na região de Araruna. Há três meses a tonelada era cotada a R$600, mas atualmente o valor caiu quase três vezes: a tonelada vem sendo comercializada a R$250, média de R$0,40 a grama.