Por Maycon Corazza - Gazeta do Paraná/Luiz Carlos da Cruz
Os cerca de dois mil integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que desde a manhã de segunda-feira (5) bloqueiam a BR-277 no Km 468, em Nova Laranjeiras, entram no terceiro dia de protesto e sem previsão para encerrar a manifestação. O trânsito ficou bloqueado nos dois sentidos durante todo o dia de ontem, apenas ambulâncias e veículos que transportam doentes eram autorizados a seguir viagem. Muitos motoristas de Cascavel que seguiam em direção a Curitiba optaram fazer a viagem por Campo Mourão para fugir do bloqueio.
Rudmar Moeses, um dos coordenadores do movimento na região, disse que o bloqueio só irá acontecer após a presidente Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Maria Lúcia de Oliveira Falcón, deixar Brasília e se dirigir até o local do conflito agrário para negociar a pauta da reivindicação. Enquanto o Incra nacional não vier aqui, não vamos sair”, diz ele.
Até o final da tarde de ontem não havia nenhuma confirmação de que representantes do Incra em Brasília pudessem assumir as negociações. Na noite de segunda-feira, o superintendente do órgão no Paraná, Nilton Bezerra Guedes e o assessor de Assuntos Fundiários do governo do estado, Hamilton Serighelli, estiveram em Laranjeiras do Sul para negociar com coordenadores do movimento, mas as discussões não avançaram e a reunião terminou sem acordo.
Entre a noite de segunda-feira e madrugada de ontem os sem-terra liberaram a pista de forma alternada a cada 30 minutos, mas pela manhã voltaram a bloquear ininterruptamente. Também foram bloqueadas as rodovias BR-158, em Rio Bonito do Iguaçu, e a BR-473, em Quedas do Iguaçu. Em ambos os casos a interdição é por tempo indeterminado.
Reivindicação
O principal item da pauta de reivindicação do MST é o assentamento das famílias acampadas em áreas da empresa Araupel nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu. Atualmente há cerca de 3.400 famílias acampadas na região, segundo dados do próprio movimento. Os sem-terra também exigem que seja estipulado um prazo para que a Araupel retire as madeiras em ponto de corte da região dos acampamentos, além da retirada imediata dos seguranças armados que rondam as áreas ocupadas.
Os sem-terra dizem que a área onde está a empresa é pública e, por isso, reivindicam o espaço para fins de reforma agrária. A Araupel emprega mais de mil trabalhadores em Quedas do Iguaçu. A Araupel ainda não se manifestou oficialmente sobre os protestos do MST.
O conflito agrário envolvendo as terras da Araupel e o MST se arrasta ao longo de quase duas décadas. Dois terços das terras que pertenciam a empresa já foram desapropriadas para fins de reforma agrária e deram lugar ao maior conglomerado de acampamentos sem-terra da América Latina, segundo o próprio movimento.
A prefeitura de Nova Laranjeiras informou que os bloqueios têm prejudicados alguns serviços na cidade, como a entrega de correspondências que não estão chegando e até deslocamentos de funcionários ao município de Laranjeiras do Sul onde fica a sede comarca do município. Segundo a prefeitura, alguns documentos que precisam de autenticação em cartório não estão sendo emitidos.
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